Criança com síndrome de Down brincando em ambiente escolar

Maternidade atípica: os desafios enfrentados por mães de crianças com deficiência

Kimberly Clark Brand Mais Abraços // Quarta-feira 4 Dezembro, 2024 // #pais, #filhos, #família

Embora seja um termo consolidado, ainda há muitas dúvidas sobre “maternidade atípica”, criado para dar mais visibilidade às mães de crianças com deficiência. Somente mulheres que vivem essa realidade é que entende exatamente os desafios e preocupações diárias.  
 
Para ter uma visão maior de como é lidar com essa rotina, que pode ser bastante exaustiva, conversamos com uma especialista e ouvimos relatos emocionantes de duas mães de crianças atípicas.  

O que é maternidade atípica?

Em primeiro lugar, é preciso entender o que é mãe atípica. São mulheres que deram à luz crianças com algum de tipo de deficiência, síndromes raras ou condições que necessitam de cuidados especiais. O termo “maternidade atípica” foi criado para dar mais visibilidade e elas. 
 
Estas mães atípicas dedicam atenção exclusiva aos filhos no dia a dia, já que eles têm dificuldades em realizar tarefas comuns. Neste processo, as mulheres vivenciam desafios constantes que passam despercebidos por quem vê de fora.  

Muitas vezes, a maternidade atípica é solitária, ou seja, a mulher não tem um parceiro ou parceira para dividir a criação, nem mesmo uma rede de apoio, o que deixaria sua rotina menos cansativa.  

Outro aspecto relevante acerca do tema é que muitas mães ficam confusas e não sabem lidar com a notícia ao descobrirem, ainda na gestação, que seu filho vai demandar mais atenção do que o esperado.  

“Neste momento, a mãe precisa ser acolhida pela família, por profissionais, pois vão aparecer emoções diversas, como choque, negação e a culpa que a farão se sentir responsável pelas especificidades desta gestação”, conta Luciane Miranda, psicóloga e psicopedagoga. 

O relato de Ana Paula Alves Pedrosa, mãe solo de Daniel, de 9 anos, é um pouco diferente: “Eu soube da síndrome de Down do meu filho somente quando ele nasceu. Fiz todos os exames do pré-natal e estavam normais. Quando ele nasceu, tomei um choque. O médico que fez o parto não me contou nada”, diz ela.  

(Foto: Ana Paula Alves Pedrosa com seu filho Daniel) 

Ela conta que passou uma noite de horror, chorou muito, mas quando amanheceu se sentiu diferente: 

“Eu acordei e me transformei em outra pessoa. Comecei a ler sobre o assunto e fui atrás de conhecimento para que meu filho tivesse o melhor desenvolvimento. Hoje sou muito feliz e minha vida é meu filho”.  

Além da síndrome de Down, Daniel foi diagnosticado com autismo aos 4 anos, o que o levou a perder a fala. “Mesmo não falando, ele não se isola, adora ficar com os coleguinhas e se comunica do jeito dele”, comemora Ana Paula. 

Entenda quais os sintomas mais comuns do Transtorno do Espectro Autista (TEA), a importância do diagnóstico precoce e das intervenções adequadas para uma melhor qualidade de vida da criança.  

Quem são as mães atípicas?  

Além de ser mãe, a maioria das mães atípicas têm múltiplas jornadas, como compromissos de trabalho, ajuda a familiares e, ainda assim, precisa se dedicar inteiramente à criança. Dessa forma, acaba não sobrando tempo para cuidar de si mesma.  

“Todo nascimento de um bebê é acontecimento, nasce ali uma mãe, um pai e, quando a criança nasce com alguma característica que requer maiores cuidados, os sentimentos e emoções são intensificados pela inquietação que também nasce ali”, afirma a psicóloga. 


Principais desafios enfrentados pelas mães atípicas

A agenda da mãe atípica costuma ser bastante distinta se comparada à maternidade típica. Um exemplo disso é que elas podem esperar em grandes filas para um atendimento da assistência social, estar sempre nos hospitais, seja por problemas cotidianos ou tratamentos a depender da deficiência da criança, tentar enturmar a criança com os coleguinhas na escola, ir a reuniões escolares frequentes, enfim... É uma rotina exaustiva. 
 
Ademais, existem desafios financeiros, pois pessoas atípicas podem demandar tratamentos exclusivos que, em sua maioria, custam caro e nem sempre são de fácil acesso via sistema público.  

Neste sentido, outra luta na maternidade atípica é manter contato com planos de saúde para solicitar consultas e exames. Embora, algumas instituições ofereçam vagas para crianças com deficiência, é preciso insistir. 

“Me recordo que, durante a gestação, eu já me senti frustrada com a pandemia, pois na maternidade não haveria visitas, lembrancinhas, fotos do parto, pois não sabíamos quão bem o Vicente nasceria. Esses detalhes simples já deixavam meu coração apertado”, se emociona Renata Cristina Albretch Ferreira, mãe de Vicente, de 4 anos, que tem paralisia cerebral. 

“As mães, naturalmente, são pessoas que defendem seus filhos com unhas e dentes, são fortes e valentes. Mães atípicas têm, além dos desafios da maternidade, outros desafios maiores para vencer! Elas valorizam as pequenas conquistas, os progressos e todos os milagres diários”.